O debate sobre a preservação do meio ambiente vem tomando proporções cada vez maiores. As catástrofes naturais estão sendo cada vez mais associadas ao modo de produção e ao estilo de consumo. Muitas pessoas, organizações e empresas que historicamente não se importaram com o meio ambiente e com a sustentabilidade estão se tornando adeptos da ideia da preservação ambiental.
Tenho a impressão de que o “giro ambientalista” de algumas grandes empresas tem que ser observado mais de perto. A causa comove uma parcela cada vez maior da população. Os empresários enxergam a população como consumidores, se uma empresa tem responsabilidade ambiental, tem uma tendência a atrair um público, normalmente seletivo pelas questões ambientais e de maior poder aquisitivo. O que acaba acontecendo é a criação de um comércio verde, um comércio ambientalmente responsável, pelo menos na teoria.
O tema do uso de sacolas plásticas em supermercados é notável. Há poucos dias, no Estado de São Paulo, os supermercados deixaram de disponibilizar sacolas plásticas nos caixas. Como os clientes dos supermercados obviamente precisam de algum recipiente para transportar suas compras, cria-se um problema. Os donos de supermercado imediatamente resolveram este problema: colocaram a venda sacolas de pano em seus supermercados. Em uma semana, apenas uma loja de um hipermercado, vendeu nada menos que 10 mil sacolas de pano.
O objetivo do não oferecimento de sacolas plásticas nos caixas pode até parecer ser a redução na produção de lixo doméstico. Opino que de fato, parece. A verdade é que os supermercados terão um grande faturamento com a venda de sacolas de pano. E este é apenas um lado do problema. O outro lado é justamente o problema ambiental, teoricamente a justificativa maior para a extinção das sacolas plásticas.
A gigantesca maioria, senão a totalidade da população, reutiliza suas sacolas plásticas do supermercado como saco de lixo. Ao menos as sacolas plásticas de tamanho médio, em geral, são totalmente reutilizadas com este objetivo. As sacolas de grande porte também são amplamente reutilizadas, aqui no Rio Grande do Sul, para guardar o ventilador no inverno e o cobertor no verão, por exemplo. As únicas sacolas plásticas que não são reutilizadas ou são de difícil reutilização são as de pequeno porte.
O problema posterior à inexistência de sacolas plásticas nos supermercados é a falta de sacos de lixo, ou a falta de sacolas para armazenarmos alguma coisa em nossas residências. Qual a solução mais comum para este problema? A compra, no mesmo supermercado que não oferece sacolas plásticas para carregar as compras, de sacolas plásticas para armazenar o lixo. Quem acaba ganhando com esta situação são os empresários dos supermercados e os produtores de sacolas plásticas, os primeiros vão vender mais sacolas de pano e sacos de lixo e os últimos comercializarão ainda mais o seu produto.
Desta forma, sequer o problema ambiental é resolvido ou minimizado, visto que muitas das sacolas plásticas comercializadas como sacos de lixo têm um tempo de decomposição igual ao das sacolas de supermercado, gerando um impacto ambiental igual ou parecido.
A solução dos problemas ambientais, ou a existência de um nível de consumo sustentável, não passam apenas pela retirada das sacolas plásticas dos caixas de supermercado. Passam por um longo processo de educação ambiental, pela existência de políticas públicas eficazes no combate á poluição, pela fiscalização rígida de todas as atividades poluentes e principalmente pela atuação da população como agente transformador de suas relações ambientais.
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