quarta-feira, 15 de junho de 2011

Brasil decide mais uma, no dia do meu aniversário

Amig@s. Se alguém acompanha este blog sabe que eu estou meio que totalmente em dívida com a atualização dele. Uma série de coisas aconteceram e eu não pude usar o blog como uma ferramenta: as mobilizações na Europa, dos bombeiros do RJ, a luta dos estudantes da UFPel... enfim, mas quem me conhece sabe que eu não estou "parado", só que nas últimas semanas, o que mais tenho escrito são fichas de leitura do Mestrado, e estas, acho que ninguém vai querer ler né? Com exceção dos meu professores!!

Bem, mas hoje é meu aniversário, me lembrei de um aniversário muito legal meu, em 1997. Escrevi sobre este dia, empolgado com o jogo do Brasil hoje a noite. Ficou meio extenso, mas espero que leiam. Em breve voltamos com força total!

Bem, 15 de Junho é o dia do meu aniversário. Em 2011, faço 28 anos. Sou torcedor do Brasil de Pelotas e tenho lá algumas lembranças de jogos decisivos do Xavante no dia do meu aniversário. Neste dia 15, às 20 h o Brasil entra em campo em Farroupilha, contra o Brasil daquela cidade e não pude deixar de lembrar de um dos dias 15 de junho mais notáveis da minha vida, justamente em razão de ser um dia de decisão para o Brasil.

Era um Domingo, 15 de Junho de 1997, eu estava fazendo 14 anos. Foi um dia muito chuvoso, daqueles pra ficar dormindo em casa, mas era meu aniversário e Xavante que se preze é da “Maior e Mais Fiel”, obviamente eu tinha que ir pro jogo.

Fui pro jogo. Na verdade fomos, eu e os meus vizinhos/amigões, o Daniel, o Rafael e se não me engano o queridíssimo e falecido Max também foi (o Max era colorado e não ia aos jogos do Brasil, mas pela excepcionalidade da partida, foi). Saímos a pé, com toda aquela chuva, da Cerquinha até a Baixada.

Jogariam Brasil e Juventude de Caxias do Sul, era uma decisão, o último jogo da Fase, se o Brasil vencesse classificaria para o mata-mata do Gauchão. O Juventude tinha um timaço, na época a empresa Parmalat jorrava dinheiro nos cofres do time de Caxias. O Brasil tinha um time mais modesto, mas, era um time combativo. O Craque do time e melhor jogador que eu vi com a camisa do Brasil era o 10, Luizinho Vieira. Digo que foi o melhor que eu vi jogar no Brasil porque sou fã dos jogadores que na hora “aga” não costumam faltar, e no dia 15 de Junho de 1997, o Luizinho não faltou.

Com toda aquela chuva, o Bento Freitas estava completamente lotado. Milhares de fiéis estavam lá e viram tudo o que eu vi, ou quase tudo. Bem, eu estava fazendo 14 anos, naquela fase de adolescente rebelde sem causa sabem? Pois o jogo começou e a torcida estava empolgadíssima, fomos lá para o “meião”, perto da Garra Xavante (a charanga, pra quem não sabe). Naquela empolgação a turma começou a fazer uma coreografia que era muito comum em todos os estádios do país, antes do surgimento das cadeiras (que ainda não chegaram na Baixada), todo mundo se abraçava e ficava pulando de um lado pro outro. Eis que o adolescente rebelde sem causa resolveu não se abraçar com a galera, porque o jogo já tinha começado e era necessário ver o jogo.

O jogo foi tenso, muito tenso. Na época, o Brasil tinha um lateral esquerdo que tinha vindo das categorias de base do Inter, chamado Silvan. A galera não gostava do Silvan, e eu não sabia porque. Eu achava que o cara jogava bem e tomei minha segunda atitude de adolescente rebelde sem causa, antipática, enquanto todos vaiavam o Silvan, eu aplaudia.

O primeiro tempo acabou em zero a zero. Ali, é normal a gente ver todo o jogo em pé e se sentar no intervalo, mas como estava tudo molhado, todo mundo ficou em pé. Neste momento, percebi que eu tinha me separado dos meus amigos, pois tinha muita gente no Estádio e acabamos ficando meio longe nas arquibancadas.

Eu estava lá, sozinho, em pé, todo molhado e começaram a passar uns copos de cerveja pela minha cabeça, na época, podia tomar cerveja nos Estádios. Neste momento, tomei minha terceira e fatal atitude de adolescente rebelde sem causa, antipática: reclamei do vai e vem dos copos na minha cabeça. Foi só eu reclamar e os copos passaram a bater com mais força na minha cabeça, viravam cerveja em mim, batiam com os braços na minha cabeça... só aí é que eu fui “tomar consciência” dos meus atos e da minha situação. Os meus amigos eram uns caras altos, mais de 1 m e 80, fortões, e eu, o mais novinho e fraquinho, tinha arranjado uma confusão.

O ápice das provocações se deu quando um dos caras dos copos de cerveja me puxou o cabelo (na época era comprido), sério, foi um puxão muito forte. Tomei coragem e me virei! Quarta atitude adolescente, rebelde, sem causa, e desta vez insana. Os “caras da cerveja” eram 6, muuuito maiores e mais “experientes”do que eu. O que puxou o meu cabelo tomou a frente, me agarrou as bochechas que nem a gente faz com as criancinhas, só que muito mais forte e começou a dizer assim: “olha aqui Negão Feijão, é um gurizinho! O que nós vamos fazer com este gurizinho? Nós vamos bater neste GURIZINHO?”

Eu, obviamente, me caguei de medo. Fiquei estático. Nisso, se aproximou o “Negão Feijão”, que era meio gordinho, com um bigodão, o mais baixo deles, mas parecia ser uma espécie de líder. O “Negão Feijão” me olhou de cima abaixo, pegou minhas bochechas e disse: “É verdade, é um gurizinho, deixa ele.”

Ufa, me livrei daquela. Me virei em direção ao campo e decidi que não olharia mais pra trás de jeito nenhum, vai que eles mudassem de idéia? Começou o segundo tempo, o jogo continuou tenso, o campo estava encharcado e a bola não rolava, a torcida estava ficando maluca. Lá pelas tantas alguém jogou uma pedra pra dentro do campo, acertou a cabeça do bandeirinha, que ficou sangrando muito e teve que ser substituído.

O tempo passou, a ansiedade cresceu e nada de gol do Xavante. Até que passados 40 minutos de jogo o Brasil armou uma jogada pela direita, a bola foi cruzada na área, se deu uma confusão e sobrou dentro da área. Adivinhem quem apareceu para guardar? Ele mesmo, Luizinho, Gol do Brasil, Gol da classificação!!!! Me lembro até hoje de ver o gol na TV no outro dia, tinha um torcedor atrás do gol (foi no gol do placar) que conservou o seu guarda-chuva intacto até o gol do Luizinho, quando saiu o gol, o cara começou a bater com o guarda-chuva na tela, destruindo-o.

E assim são as comemorações dos gols decisivos, naquele dia não foi diferente. Em todo o Estádio, toda a Massa Xavante se enlouqueceu, uns pulavam, outros corriam, outros se deitavam nas arquibancadas, nas poças d’água... eu, que estava longe dos meus amigos, pulei, gritei, me ajoelhei, levantei e comecei a abraçar todo mundo que estava perto de mim, pessoas desconhecidas, mas que naquele momento tinham virado meus melhores amigos.

Lá pelas tantas, adivinhem que surgiu ao meu lado? Ele mesmo, o “Negão Feijão”. Fiquei meio grilado, “o que eu vou fazer, será que esses caras querem me bater ainda?” Eis que o Feijão me agarrou pelas bochechas novamente, me sacudiu e começou a gritar: “GURIZINHOOOOO, GURIZINHOOOOO, É NOSSO, É O XAVANTE!!!”, depois ele começou a beijar as minhas bochechas, as mesmas que ele queria esbofetear a 45 minutos atrás.

Comemoramos todos juntos. Eu e a “galera dos copos”. Foi uma grande lição, um baita presente de aniversário. Talvez até tenha sido um divisor de águas, um episódio importante para o término da maldita fase de adolescente rebelde sem causa. Hoje, 15 de Junho de 2011, faço 28 anos, não sou mais adolescente, me considero um rebelde, só que agora com causa. O que não mudou é que eu continuo sendo mais um membro da Massa Xavante, da Maior e Mais Fiel e que eu quero que alguém “guarde” aquele golzinho da classificação no dia do meu aniversário.

Saudações especiais ao Luizinho Vieira, que a última vez que vi estava treinando o nosso co-irmão Farroupilha e ao “Negão Feijão” que nunca mais vi.

G.E.Brasil 1x0 Juventude 1997 - Gauchão