sexta-feira, 11 de junho de 2010

Lições em um jogo de abertura da Copa do Mundo

Nesta sexta-feira, dia 11 de Junho, começa a Copa do Mundo de Futebol. O jogo de abertura é entre a anfitriã África do Sul e o México. Esta é uma das situações da vida que me fazem lembrar um episódio da minha infância que teve enorme conseqüência na minha formação pessoal.

A primeira Copa do Mundo que assisti foi em 1990, disputada na Itália. Na época morávamos no Bairro Simões Lopes e assistiríamos à Copa em nossa primeira televisão a cores.

Naquele tempo quem abria a Copa não era a seleção anfitriã, mas a seleção campeã da edição anterior. O jogo de abertura foi entre Argentina e Camarões. A primeira, campeã em 1986, contava com o craque Diego Maradona, era amplamente favorita para aquela partida e candidatíssima ao título, já a seleção de Camarões era uma incógnita, uma zebra, como todas as seleções africanas. Até a Copa de 90.

Estávamos lá, eu e a minha irmã Janaína (6 e 10 anos, respectivamente) assistindo o jogo. Passados uns 10 ou 15 minutos o nosso pai chegou do trabalho. Fomos correndo avisá-lo de que estava passando o jogo de abertura, perguntamos se queria assistir com a gente.

Ele não gostava de ver jogos de futebol, menos ainda lhe agradava ficar parado na frente de uma televisão, por aí, não deu muita bola pro nosso convite. Apenas nos perguntou quem estava jogando e para quem estávamos torcendo.

Ingenuamente, como qualquer criança, dissemos que o jogo era entre Argentina e Camarões e que estávamos torcendo para a Argentina. Ele nos perguntou o motivo da torcida e explicamos que obviamente a Argentina era mais forte e venceria o jogo.

Foi então que ele resolveu nos dar uma lição. Ficou sério e começou a nos interrogar sobre o porquê de torcermos para “o mais forte” e porque o mais forte “sempre tinha que ganhar”. Ficamos ali pensativos, e um pouco por respeito outro pouco por vontade passamos a torcer para Camarões.

A “virada de casaca” nos deu uma grande alegria. Para a surpresa da maioria absoluta das pessoas que assistiam àquela partida, o atacante Omam Biyik fez o gol da vitória de Camarões. Lembro até hoje da imagem da zebrinha passando na TV e da nossa comemoração pelo gol e pela vitória da seleção africana.

Poderia ter sido um simples jogo de futebol, um episódio esquecível, no entanto ficou marcado como uma lição: não precisamos torcer pelos mais fortes e os mais fortes nem sempre vão ganhar. Os “mais fracos” podem vencer e vão vencer, e vamos comemorar, como comemoramos o gol do Omam Biyik.

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